quinta-feira, 2 de julho de 2015

Meu segundo Iftar – Parte 1

Pra começar a falar do meu segundo Iftar eu preciso falar do meu primeiro.

Eu mal cheguei na Arábia e entramos no mês do Ramadam, o mês mais sagrado para os muçulmanos. Uma das curiosidades sobre o Ramadam é que eles ficam em jejum desde o nascer do sol até o por do sol, quando chega o fim do dia, geralmente umas 6:30 da tarde, começa a hora da oração em todas as mesquitas (e não existe ponto na cidade em que não se escute as orações das mesquitas) e após isso é feita a primeira refeição do dia, o Iftar. Geralmente se inicia essa refeição com 3 tâmaras, pra imitar o que o profeta fez.

Eis que naquela tarde de sexta feira, o nosso domingo aqui, nós resolvemos passear na praia que tem aqui pertinho. Chegamos lá, tiramos algumas fotos e notamos muitas famílias reunidas em picnics, somente esperando o horário certo pra começar a comer. Nós não ficamos nem 5 minutos tirando fotos e observando quando um árabe nos chamou e nos convidou pra comer com eles.


Eu no meio da comilança. 
Achando a hospitalidade o máximo a gente foi. Tinha mais um rapaz e um casal, ela toda coberta, só com os olhos de fora, como de costume. Primeira lição do dia: homem não deve tocar em mulher que não é da família, então eu sempre com meus oizinhos à distância. Segunda lição: homem e mulher não sentam juntos... Ai que saco, lá vou eu pro outro lado do tapete. Fora isso, cheirinho bom, muita comida e vários tipos de tâmaras. Conversamos bastante, trocamos curiosidades, eles explicaram como funcionava o iftar, foi bem interessante. Começou a oração e começamos a comer... Mwahahaha.

Começando pelas tâmaras, eu já tinha provado tâmaras no Brasil e odiado, mas como sou adepta a novas aventuras gastronômicas resolvi provar outra vez. E não é que a tâmara daqui é uma delícia! Tinha uma mais sequinha e uma com calda. Pega a tâmara e mergulha numa espécie de creme de leite com iogurte... demais! E eles não paravam de oferecer e quem sou eu pra recusar, vai que fica feio pra gente! Provei de tudo, tinha uma espécie de pastelzinho, umas bolinhas que lembravam bolinho de chuva – na versão sequinha e na versão com calda de tâmara. Tinha doce, salgado, comida pra caramba. E o tradicional café árabe...

Eu tinha provado café árabe em uma loja naquela semana, achei estanho, mas desta vez, como estava ali que não estava recusando nada, resolvi provar de novo, dar uma segunda chance... Bebi e... é... de 1 a 10 é nota 6... Esse tinha um pouco de leite, então ficou mais gostosinho.

Num determinado momento os homens levantaram, foram rezar e deixaram tudo lá com a gente: comidas, bolsas, celulares, e explicaram que com essa atitude eles estavam dando o voto de confiança deles na gente... Como bons brasileiros achamos estranho... quando é que no Brasil, em um lugar publico você deixaria suas coisas com estranhos que acabou de conhecer? Até se você for muito bom coração e acreditar que todos merecem um voto de confiança até que se prove o contrário... ainda assim, em um lugar público, pode passar um trombadinha, recolher os celulares, comer a comida, beber o suco, tirar um cochilo e ir embora. Bom, aqui na Arábia não tem disso. Falem que são todos loucos, mas pelo menos aqui da pra viver sem medo de roubos e assaltos... de bombas, talvez (rsrs), mas a criminalidade aqui é bem baixa. A mulher só se afastou um pouco e rezou sozinha (homens e mulheres não rezam juntos).

Na volta esse árabe nos explicou algo muito interessante: qual país, organização ou religião no mundo pode, com apenas um comando, colocar todos os homens em linha reta, organizados...? O Islã! Seja quem for, desde pequeno eles sabem o que devem fazer quando é hora da oração. Em casa eu e o marido ficamos analisando aquela situação. É uma disciplina militar. Com um sinal eles se organizam... Supondo que houvesse uma guerra, com um sinal eles fariam uma barreira pra defender o que fosse preciso. Achei interessante, achei curioso, achei complexo. Porque nos dias de hoje disciplinar um grupo, um país, não deve ser nada fácil e aqui é um país que pra muitos “parou no tempo” mas que mantém tradições antigas muito vivas. E digo mais, um dia eu estava ajeitando meu hijab (lenço) na saída da academia, toda atrapalhada, e adivinha quem me chamou a atenção porque um pedaço do meu cabelo estava aparecendo? Não foi um homem, não foi uma senhora, foi uma moça! Mais nova do que eu ainda a recalcada. Hahahaha.

Em outro post comento mais sobre o Ramadam e as milhares e infinitas orações que eles fazem ao longo do dia.

Finalizando sobre o picnic, trocamos contatos, a mulher não falava muito inglês então fiquei mais ouvindo a conversa dos outros que falando, eles nos deram uma sacola cheia de quitutes que sobraram. Saímos redondos, mas bem felizes pela acolhida simpática daquela família. E ficou um convite aberto para um iftar no outro dia, na casa de outro árabe.


Tiramos algumas fotos e mais tarde eu conto sobre o meu segundo iftar propriamente dito.

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