segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Meu Segundo Iftar - Parte 2. (texto longo!)

Continuando a história do meu primeiro Iftar, chegamos então no fatídico segundo.

Se você não leu a parte 1, clique aqui!

Infelizmente não pude tirar fotos dessa ocasião, então deixemos a mente de vocês trabalharem no cenário.

Nosso amigo árabe veio nos buscar no dia seguinte para a festa. Primeiro pânico foi: que roupa usar?
Bom, imaginei que seria uma festa pequena e que ficaria de abaya o tempo todo... Sinceramente, não tinha nenhum tipo de roupa que encaixasse nessa ocasião. Roupa de festa? Só estilo Brasil... curtas. Melhor ir recatada, fui de calça jeans.
Sabe quando você entra no carro de alguém que acabou de conhecer, num país que acabou de chegar? Então, coração apertou, pensei: "o que que esse cara vai fazer com a gente? MEDO!" Mas sabe? Eles foram tão legais, e no Ramadan eles ficam tão caridosos...
Chegando perto da "pequena casa" já comecei a sentir um frio na barriga e uma sensação de "devia ter ficado em casa" pois a reunião entre amigos se mostrava ser um baita festão. Muitos carros na rua.
Ainda dentro do carro me dei conta da situação: eu já tinha lido que homem e mulher não ficam no mesmo ambiente, pensei: meu marido está com esse árabe que conhecemos e eu só estou comigo mesma!
Dito e feito, chegamos em frente a uma escadaria com uma porta no final. O amiga árabe falou:
- Pode subir as escadas e entrar naquela porta.
Eu não tinha escolha, desci do carro e a cada degrau a vontade era de voltar dois, de vergonha de chegar num lugar de metida, sabe? Mas aí pensei: "que oportunidade incrível de me infiltrar na cultura! Bota a cara de pau e vai!". Fui.
Entrei na casa e fiquei uns 30 segundo tentando reconhecer o ambiente. Muitas mulheres, todas sem abaya, com vestidos de festa, cabelo feito, maquiagem...Os vestidos iam do estilo colorido espalhafatoso ao vestido de princesa árabe. A casa era enorme, extremamente bem decorada, o teto bem alto, um luxo.
Logo que me viram, veio uma mocinha pedir que tirasse a abaya e véu e entregasse a ela. Relutei, eu não estava preparada para aquele tipo de ocasião, mas no fim entreguei as coisas e fiquei destoando entre todas, dando na cara que havia uma forasteira no meio delas.
Passamos então para uma sala cercada de sofás, tinham algumas mulheres mais velhas que estavam de burqa, com as mãos pretas do que eu acho ser de henna. Naquela ocasião todas as mulheres que sentaram para conversar comigo foram super gentis e educadas. Muitas falavam inglês o que ajudou bastante.
Na sala muitos quitutes estavam à postos, iogurtes, tâmaras, esperando o momento certo chegar para quebrarem o jejum.
Pontualmente às 18:36 é ouvido um sinal que vem das várias mesquitas espalhadas pela cidade (sim, escutamos todos os 5 chamados para a oração todos os dias, inclusive de madrugada) e é dada a largada para a festa degustacional!
Tradicionalmente quebra-se o jejum com 3 tâmaras e café árabe. Elas iam me servindo e mal terminava de comer uma coisa já ofereciam outra. Como eu não quis ofender em recusar aceitei tudo que vinha! Pra que fazer desfeita, né? Sempre tomando o cuidado de pegar tudo primeiro com a mão direita (pois a esquerda é a mão de fazer higiene o.O).
Depois de ter provado um pouco de cada coisa, nos convidaram para passar em outra sala: duas mesas redondas gigantes, com vários lugares cada, um prato imenso de arroz e um cordeiro inteiro no meio de cada mesa, vários de outros pratinhos com humus e esses tipos de pastinhas, em cada cadeira um livro do Al Corão de lembrança para os convidados (óbvio que eu trouxe o meu pra casa, mesmo estando todo em árabe. É lindo!). Além das mesas redondas tinha um buffet com diversos pratos, a maioria de comida libanesa como me explicaram. Era comida pra caramba! Quiseram me servir e fui aceitando um pouquinho daqui, um pouquinho dali...
Achei a comida espetacular, deliciosa mesmo. Fui comendo e conversando, sempre tinha alguém interessada em treinar o inglês. No fim do jantar fomos convidadas à retornar para a primeira sala onde estavam servidas as sobremesas. Nessa altura do campeonato eu já estava literalmente cheia e meu marido já tinha me ligado que estavam indo embora. Gabriela recusando sobremesa é novidade! Claro que aceitei um pouquinho do que parecia ser um pudim meio mole e algumas frutas.
O papo tava bom mas eu tinha que ir, pedi para que uma delas me ajudasse a colocar o hijab (véu) mais para ver se o jeito que eu sabia estava certo. Fizeram uma roda em volta de mim nesse momento, me senti um brinquedinho. hahaha. De abaya e véu, com meu exemplar do Corão na mão, me despedi e fui encontrar com o marido e o amigo árabe lá fora que já estavam a um tempo esperando.
Pra quem teve receio de entrar até que demorei mais do que devia pra sair. :P

Depois em casa o marido me contou do luxo e dos excessos como o ar condicionado ao ar livre na ala masculina da festa, bem como de a festa ser muito maior de tudo que havíamos imaginado, mais de 200 convidados, muitos deles chegando em carros de luxo.

Oportunidades como essa, por mais que dêem receio de ir no início porque não conhecemos os costumes, são imperdíveis! No fim das contas o mostro de 7 cabeças se mostra ser um gatinho assustado. Existindo respeito, tudo dá certo!


P.S.: Na época do Ramadam eles estão mais caridosos e simpáticos, pois faz parte da doutrina. Naquela ocasião não tive um ai pra reclamar das mulheres árabes, porém no dia a dia muitas que trabalham no atendimento são difíceis de engolir.

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